Sustentabilidade na indústria de alimentos e bebidas
A 26ª Conferência do Clima (COP26) trouxe à tona o compromisso da indústria brasileira com as ações em favor da sustentabilidade. No setor de alimentos e bebidas, os investimentos em ESG vêm sendo potencializados nos últimos anos. Segundo estimativas da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (ABIA), o volume aplicado nessas ações alcançou 0,76% (R$ 6 bilhões) do faturamento do segmento em 2020 (R$ 789,2 bilhões). Esse montante equivale a 27% dos investimentos totais da indústria de alimentos (R$ 22,3 bilhões) no mesmo ano. Para 2021, projeta-se um incremento de 20% no volume investido (R$ 7,2 bilhões), o que representará 0,78% do faturamento do setor (R$ 923 bilhões) e 30% dos investimentos totais (R$ 24,8 bilhões).
A General Mills, detentora da marca Yoki, está implementando práticas agrícolas sustentáveis na produção de milho de pipoca. Na Cargill, uma das principais iniciativas voltadas para economia circular atingiu, em julho deste ano, a marca histórica de 6 milhões de litros de óleo de fritura coletados. A Kerry aumentou as metas de redução das emissões de carbono de 33% para 55% até 2030. A PepsiCo pretende alcançar impacto hídrico positivo até 2030, visando reduzir o uso absoluto e reabastecer mais de 100% da água que utiliza.
Responsável por cerca de 10% do faturamento total do PIB (Produto Interno Bruto), a indústria de alimentos brasileira se destaca não apenas pela força econômica. “Os investimentos estão em todas as frentes, desde a redução no uso de recursos naturais até as ações de capacitação profissional, elaboração de projetos sociais para o desenvolvimento das comunidades locais e adoção de estratégias de gestão de resíduos e redução do consumo de água”, confirma o presidente executivo da ABIA, João Dornellas. Ele reforça que a alta escala e competitividade da indústria brasileira de alimentos sempre foram pautadas pelo respeito e proteção ao meio ambiente.
ECONOMIA CIRCULAR
Projetos de reutilização e destinação correta de resíduos já são objeto de atenção da indústria de alimentos há quase uma década. Além das ações para fazer frente à legislação que instituiu a logística reversa de embalagens (Lei nº 12.305/2010, Política Nacional de Resíduos Sólidos - PNRS), também tem incorporado rapidamente o conceito da economia circular. São exemplos a redução da quantidade de plástico em garrafas de água e de papelão nas caixas de inúmeros produtos; o uso de materiais biodegradáveis; a adoção do plástico verde, feito de etanol; a inclusão de plásticos reciclados; e a diminuição do tamanho das embalagens. Além disso, a ABIA integra o grupo de 12 organizações representativas do setor empresarial que, em 2015, assinou o acordo setorial federal para implementar a logística reversa de embalagens no Brasil.
Cargill
Uma das principais iniciativas da Cargill voltadas para economia circular atingiu a marca histórica de 6 milhões de litros de óleo de fritura coletados. O programa Ação Renove o Meio Ambiente, ligado às ações de sustentabilidade da marca de óleos LIZA, alcançou, em julho deste ano, números de coleta que eram esperados para meados do segundo semestre, o que aponta para um engajamento cada vez maior dos parceiros e consumidores.
Criado em 2010, o programa surgiu como uma alternativa simples e prática para os clientes darem uma destinação correta aos resíduos gerados pelo processo de fritura. Além da instalação de pontos para entrega, o sistema de logística reversa também realiza atividades de educação ambiental e conscientização. A iniciativa se expandiu em sua primeira década e hoje se apresenta como uma plataforma sustentável, com mais de 1.400 pontos de coleta de óleos e gorduras vegetais em 17 estados e no Distrito Federal.
Gomes da Costa
O Programa Resíduo Zero Gomes da Costa foi implementado em 2020, com o objetivo de eliminar a destinação de resíduos não perigosos para aterro por meio da redução das sobras e/ou da valorização do material. O projeto faz parte do Compromisso Responsável, a agenda de sustentabilidade da empresa com objetivos até 2025. Os resultados têm sido animadores: em 2019 se contabilizou uma média anual de 66% de resíduos não perigosos valorizados; já em 2020 esse índice saltou para 89%. Em 2021 já foram alcançados 90%. A principal ação foi transformar os resíduos de pescado em farinha e óleo de peixe.
Mondelēz
A Mondelēz International, líder global em snacks e dona de marcas como Bis, Lacta, Oreo, Tang, Club Social, Halls e Trident, publicou o relatório Snacking Made Right, que reforça o progresso da companhia em suas metas de ESG ao longo de 2020. Os esforços para entregar mudanças positivas levaram a resultados importantes e com impactos nos negócios. Em 2020, a empresa progrediu significativamente em relação às suas metas de sustentabilidade e bem-estar e excedeu algumas delas.
A redução de 20% na emissão de CO2 em toda a operação, por exemplo, superou a meta de 15%. No que diz respeito às embalagens, 94% estão projetadas para serem recicláveis. A companhia destaca ainda a redução de mais de 30% no total de resíduos das operações de fabricação, superando a meta de 20%, bem como a diminuição de 30% no uso prioritário de água, indo além da meta de 10%.
Unilever
A Unilever Brasil, que foi selecionada para participar da COP26, está em linha com a nova estratégia de negócio apresentada pela Unilever globalmente, o Unilever Compass, que se baseia nos critérios e premissas ESG e se compromete, até 2025, em reduzir em 50% o uso de plástico virgem; utilizar 25% de plástico reciclado em suas embalagens; e ter 100% das embalagens de plástico recicláveis, reutilizáveis ou compostáveis. Como parte desta jornada global, a companhia evitou a destinação de cerca de 13 mil toneladas de plástico para aterros desde 2018, quando inovou com a marca TRESemmé ao substituir o plástico virgem por reciclado nas embalagens.
Além de diminuir a geração de resíduos plásticos, a iniciativa também contribuiu para reduzir as emissões de gases de efeito estufa: mais de 17 mil toneladas de CO2 deixaram de ser jogados no meio ambiente ao longo do mesmo período. Ao invés de ser descartado, esse material foi coletado, processado e retornou na forma de novas embalagens.
“Sabemos que a solução para a gestão de resíduos passa, necessariamente, pelo esforço de reinseri-los na economia e evitar que sejam descartados no meio ambiente, em lixões ou aterros. Para isso, a nossa atuação é pautada em inovar para reduzir, reutilizar e reciclar. Soma-se a isso o esforço em criar uma demanda consistente e de longo prazo por resina reciclada e, desta forma, promover o desenvolvimento sustentável da cadeia de reciclagem”, afirma Zita Oliveira, gerente de desenvolvimento de embalagens da Unilever Brasil.
BAIXO CARBONO
A indústria de alimentos é um dos segmentos das indústrias de transformação com menor geração de poluentes, segundo a última versão (2016) do “Inventário Nacional de Emissões e Remoções Antrópicas de Gases de Efeito Estufa (GEE)” do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Contribuem para isso movimentos voltados para a sustentabilidade energética, que fizeram com que essa indústria representasse uma das matrizes energéticas mais limpas do país. No que diz respeito às emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE), tem papel relevante nos chamados Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDLs) – um dos mecanismos de flexibilização criados pelo Protocolo de Kyoto (1997) para auxiliar o processo de redução de emissões de GEE – capazes de gerar os créditos de carbono.
General Mills
A companhia realizou um estudo no Mato Grosso que constatou, entre outros resultados, que técnicas agrícolas sustentáveis posicionam o sistema de produção de milho de pipoca em Mato Grosso, a maior do País, entre os dez mais eficientes do mundo.
Globalmente, a média de emissões de GEE para se produzir milho é estimada em 1,7 tCO2e por tonelada de produto, para as quais as emissões provenientes da fazenda contribuem com quase 50% ou 0,81 tCO2e por tonelada de grão produzido (Poore & Nemecek, 2018). Com base nas estimativas encontradas na pesquisa, as emissões dos milhos de pipoca produzidos em Campo Novo do Parecis estão potencialmente entre os dez mais eficientes sistemas de produção globais de milho, registrando cerca de 0,25 tCO2e em emissões de GEE por tonelada de produto.
Kerry
Líder mundial em Taste & Nutrition, a Kerry está acelerando suas metas de sustentabilidade para se alinhar ao objetivo do Acordo de Paris e limitar o aumento da temperatura global em 1,5 grau Celsius. A empresa aumentou as metas de redução das emissões de carbono de 33% para 55% até 2030. Entre as iniciativas a serem aceleradas estão a mudança para 100% de energia renovável dentro de 12 meses; implementação de programas de eficiência energética reduzindo o consumo de combustível local; redução de 30% na intensidade das emissões até 2030 em toda a cadeia de abastecimento.
Para este mesmo ano planeja-se que 100% das matérias-primas prioritárias serão obtidas de forma responsável. Os compromissos de embalagem da Kerry garantirão que até 2025 todo o plástico usado será reutilizável, reciclável ou compostável e que o uso de plástico virgem será reduzido em 25%.
BRF
Presente em mais de cem países e uma das maiores produtoras e exportadoras globais de alimentos, a BRF empreende uma jornada rumo à neutralidade climática totalmente conectada com o grande esforço pela vida do planeta. A companhia formalizou junto à Science Based Targets Initiative (SBTi) o compromisso em se tornar Net Zero em emissões de gases de efeito estufa até 2040. Com as novas metas, a empresa reforçou o comprometimento com a agenda ESG. Ficou estabelecido um conjunto de iniciativas em quatro frentes prioritárias: compra sustentável de grãos; fomento à agricultura de baixo carbono; aumento do uso de energia renovável; e incremento da eficiência operacional. As metas abrangem toda a cadeia, do campo ao consumidor.
DSM
Especializada em soluções de nutrição, saúde e biociência, a DSM vem se dedicando a desenvolver uma série de ingredientes que possibilitam a redução na casa de dois dígitos das emissões dos animais até 2030. Com os novos produtos é possível permitir uma redução de 20% nas emissões de gases de efeito estufa na produção de laticínios, 30% na nas emissões de amônia da suinocultura e 30% nas emissões de fósforo derivado da avicultura.
USO RACIONAL DOS RECURSOS HÍDRICOS
Nove em cada dez empresários estão preocupados com a crise hídrica. É o que mostra levantamento realizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) junto a 572 empresas entre junho e julho deste ano. De acordo com os dados, o maior temor dos industriais é o aumento do custo da energia – 83% apontaram esta como a principal preocupação. Outros 63% se dizem preocupados com o risco de racionamento e 61% com a possibilidade de instabilidade ou de interrupções no fornecimento de energia.
PepsiCo
A companhia anunciou o compromisso global de alcançar um impacto hídrico positivo até 2030, visando reduzir o uso absoluto e reabastecer mais de 100% da água que utiliza. Na fábrica em Itu (SP) foi instalado um complexo sistema de reaproveitamento, por meio do qual já foram repotabilizados 162 milhões de metros cúbicos até 2020, o equivalente a quatro piscinas olímpicas por mês. Lançando mão de uma tecnologia pioneira no Brasil, a PepsiCo economiza o total de 9 milhões de litros mensais, o que corresponde a 60% do consumo total da fábrica.
Kraftheinz
Na companhia, o consumo de água está 31% menor que o do ano passado, embora a produção seja maior. A unidade Nova Goiás o uso do recurso pode ser visto como benchmark global: apenas 2m³ por tonelada produzida. Além disso, a empresa controla vazamentos com um time multidisciplinar para evitar desperdícios nas fábricas. Há ainda o reuso de efluente industrial tratado para atividades externas e fora de contato com alimentos.
Outras ações destacadas pela Kraftheinz são: reforma de toda a estação de tratamento de água diminuindo a quantidade de retolavagem na planta e reduzindo o consumo; início dos projetos de fertirrigação para fazendas vizinhas, diminuindo o consumo dos nossos vizinhos em corpos hídricos; e instalação de novos circuitos fechados em processos dentro da fábrica.
M. Dias Branco
A empresa vem desenvolvendo uma série de ações, entre elas reuso de água, redução de resíduos, plantio de mudas em Área de Preservação Ambiental, maior utilização de energias renováveis, inventário de gases do efeito estufa e ações de mitigação. Também fazem parte do rol a redução no consumo de plástico, anualmente, em 1,2% em relação ao consumo total e a diminuição do consumo relativo de energia em relação ao ano anterior.
“O desenvolvimento sustentável é aquele que consegue atender às necessidades da geração atual sem comprometer as gerações futuras. Nós procuramos, por meio das nossas práticas de gestão, tornar cada vez mais efetivo o comprometimento com a sustentabilidade do negócio”, afirma Thays Garcia, coordenadora de Sustentabilidade da empresa.