por Abia

Sabor da biodiversidade: empresa de temperos da Amazônia recebe investimento inédito da Ajinomoto

O tema da sustentabilidade dominou a sexta edição do Brasil Investment Forum (BIF), evento organizado pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) e pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), nos dias 7 e 8 de novembro. Um dos painéis do evento teve como foco a Amazônia, no qual especialistas e representantes do mercado debateram a importância dos negócios de impacto na região para manter a floresta de pé.

A discussão contou com a participação do empresário Paulo dos Reis, fundador da Manioca, indústria alimentar do Pará que acaba de receber investimentos inéditos da Ajinomoto do Brasil. Foi a primeira vez que um amazônida integrou a programação do BIF para falar sobre Amazônia. E também foi a primeira vez que qualquer corporação investe em uma empresa do mesmo setor na Amazônia.

“A gente chama isso de Corporate Venture Capital, quando uma empresa quer inovar e ao invés de criar uma área nova, ela investe em um negócio que já existe”, celebrou Paulo. “Não é só um caso de investimento. É uma empresa que olha para a Amazônia entendendo a inteligência amazônica, do empreendedor da marca amazônica”, adicionou.

A Manioca produz molhos e temperos para refeições, provenientes de mais 20 ativos da biodiversidade da Amazônia. “Eu olho para a população da região para tentar criar um movimento de industrialização, porque esses produtos podem gerar mais valor, empregar mais gente, gerar inovação e tecnologia, retendo o valor gerado no próprio território”, destacou Paulo dos Reis, fundador e CEO da empresa.

Paulo explica que um quilo de mandioca sai do campo custando cerca de um real, mas que, ao ser beneficiados pela Manioca, chega a 120 reais. Os 119 reais que ficam na região contribuem para o desenvolvimento local. Agora, com investimento da Ajinomoto do Brasil, a empresa deve ampliar a produção.

Investimento em sabor natural

O investimento recebido pela Manioca foi realizado pela Ajinomoto do Brasil, detentora de marcas como Sazón, Mid e Vono. O aporte se deu por meio da Ajinolab, hub de inovação da companhia, e é o primeiro realizado fora do Japão.

Segundo o CEO Paulo dos Reis, a Ajinomoto procurou a Manioca na busca pelo sabor natural do tucupi. O tradicional molho amazônico extraído da mandioca é um dos carros-chefes da empresa paraense graças ao sabor “umami”, que é um dos cinco gostos básicos do paladar humano, além do ácido, doce, amargo e salgado.

De acordo com o empresário, trata-se do “gosto do gostoso”, que é adicionado artificialmente em produtos industrializados como Doritos e hamburgueres. “No nosso caso, esse sabor é natural, decorrente de processos fermentativos. O tucupi é uma bomba de umami. Eles buscaram a gente por conta disso”, explica.

Com uma equipe de apenas 15 pessoas, a Manioca busca ampliar a escala de produção com essa parceria. A ideia é poder aproveitar da gigantesca operação da Ajinomoto, que conta com 500 pessoas só na área de vendas. “Nosso impacto está ligado à nossa escala. Hoje temos 3 ou 4 hectares de mandioca orgânica, mas poderíamos ter 100. Em cada campo de mandioca, 10 famílias são apoiadas”, relata Paulo.

Potencial econômico da Amazônia

Apesar do imensurável valor para o combate às mudanças climáticas, a região amazônica ainda enfrenta enormes desafios em termos de desenvolvimento. Com uma população de 30 milhões de pessoas, mais de 70% vivem em áreas urbanas e quase 45% abaixo da linha da pobreza, com baixo acesso a água e saneamento. O modelo econômico vigente na região ainda é baseado em uma economia de baixa produtividade, com alto grau de degradação ambiental.

Segundo Carlos Nobre, Pesquisador sênior do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, que integrou o painel, a política do governo atual para a região tem como foco justamente a neoindustrialização combinada com sustentabilidade. “Na escala da Amazônia nós temos que gerar essa bioindustrialização. Há um potencial gigantesco”, ressaltou.

De acordo com a Diretora de Natureza e Sociedade do CEBDS, Juliana Lopes, também presente no debate, a economia da floresta em pé pode agregar mais de 2 trilhões ao PIB, gerando 2 milhões de empregos. “É crescente o interesse da vanguarda do setor industrial brasileiro em investir do desenvolvimento inclusivo da Amazônia. Precisamos acelerar esses investimentos”, destacou.

Da Amazônia para o mundo com a ApexBrasil

A trajetória da Manioca na internacionalização esteve estreitamente ligada aos atendimentos realizados pela ApexBrasil. A empresa participou de todos os programas da Agência voltados para iniciantes.

Em 2016, a passou pelo Programa de Qualificação para Exportação (PEIEX) e em 2018 participou do Design Export, ação que conecta empresas com estúdios de design para inovações em embalagens e produtos. Foi assim que a empresa conheceu o estúdio Casa Rex, com quem passou a trabalhar desde então. Juntos, desenvolveram embalagens arrojadas que já receberam 4 prêmios de design, dois nacionais e dois internacionais.

A Manioca também frequentemente compõe as delegações para feiras do segmento de alimentação realizadas pela ApexBrasil. Em 2019, na feira Sirha, uma das maiores do mundo em hospitalidade, alimentos e catering, que acontece na França, a empresa ganhou o prêmio de produto inovador.

“Através da ApexBrasil nós temos tido várias oportunidades de mostrar esse valor agregado de marca e de identidade e essa tecnologia tradicional do produto amazônico para fora. Eu mesmo tive a oportunidade de estar recentemente em uma feira nos Estados Unidos, a ExpoEast, onde o produto amazônico chama atenção por natureza, especialmente nesse mundo americano e europeu, em que a sustentabilidade e produção baseada na floresta em pé cada vez chamam mais atenção”, relatou Paulo.

Notícia completa.: https://apexbrasil.com.br/content/apexbrasil/br/pt/conteudo/noticias/Sabor-da-biodiversidade-empresa-de-molhos-da-Amazonia-recebe-investimento-inedito-da-Ajinomoto.html#msdynttrid=p_oB7X0JjAzVDKIwGc_pjeij6N08bQQzMajJKlpmHaQ

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