por Abia

O poder da floresta em pé: a conservação como vetor para o desenvolvimento

Sequestro de carbono, desenvolvimento sustentável e geração de PIB (Produto Interno Bruto) é uma conta possível de fechar, desde que a conservação das florestas seja uma das premissas. Essa análise permeia discursos de empresários, representantes do setor de financiamento e especialistas em clima e meio ambiente ao discutir o papel das florestas – tema que merece atenção especial neste 5 de setembro, quando é comemorado o Dia da Amazônia.

Vale destacar que 58% do território brasileiro é coberto por florestas e que o país detém 20% da biodiversidade do planeta, figurando em primeiro lugar entre os 17 países classificados como ‘megadiversos’ – grupo de países que abrigam a maioria das espécies da Terra.

É consenso que o setor florestal pode beneficiar o Brasil, além de combater as mudanças climáticas, preservar o futuro do país e gerar renda.

Segundo o gerente-executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Davi Bomtempo, para que isso aconteça é imprescindível que o país avance no fortalecimento da gestão das florestas públicas, que ocupam mais de 300 milhões de hectares do território brasileiro.

“É preciso desburocratizar os processos de concessão florestal, a fim de aumentar a atratividade do negócio. Também é preciso combater o desmatamento ilegal e as queimadas, estimular a bioeconomia e efetivar a implementação dos instrumentos previstos no Código Florestal, especialmente o Cadastro Ambiental Rural (CAR) e o Sinaflor, e acelerar o processo de regularização fundiária”, enumerou Davi Bomtempo.

O papel das florestas foi tema de discussão entre empresários, representantes do setor de financiamento e especialistas em clima e meio ambiente no evento Estratégia da Indústria para uma Economia de Baixo Carbono, promovido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), nos dias 16 e 17 de agosto.

Conservação florestal reduz emissões, custos e preserva a biodiversidade

Nesse contexto, as florestas têm papel fundamental na redução das emissões de gases do efeito estufa (GEE). E vai além. William Wills, sócio-diretor da EOS Consultoria, pontuou que ter uma meta de área de floresta em pé é a forma mais barata de reduzir as emissões. Além disso, pode reduzir custos para toda a economia, preserva a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos.

No setor industrial, a Suzano, líder mundial no mercado de celulose de eucalipto, mostrou que é possível ser ambicioso na redução das emissões de CO₂ por meio da conservação florestal. Entre 2020 e 2021, a empresa removeu 8.896.258 ton CO₂ da atmosfera, graças a um aumento de áreas de florestas plantadas e nativas na base florestal da empresa e à melhoria da produtividade nas plantações de eucalipto.

“Ocupamos uma área de dois milhões de hectares, sendo a metade de área conservada e a outra metade de plantio de florestas. Temos consciência de quão maior o nosso tamanho, maior também a nossa responsabilidade”, diz a líder global de Relações Corporativas da Suzano, Mariana Lisbôa. Para ela, a transição para uma economia verde será mais rápida com o engajamento da indústria.

Segundo o diretor-executivo da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), embaixador Carlos Alfredo Lazary Teixeira, o senso comum atrela a bioeconomia em florestas ao produto madeireiro, porém, para ele, o campo é amplo e vai além do setor madeireiro.

Ele ressalta ainda a importância de se investir na prestação de serviços nessas localidades, como forma de conservação. “Nossa ideia é trabalhar para identificar como resguardar os parâmetros das comunidades locais, trabalhar para capacitar as comunidades e tribos indígenas para poder usufruir do turismo, por exemplo.”

Concessão de parques e florestas é “avenida de negócios”

De acordo com o diretor de Crédito Produtivo e Socioambiental do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Bruno Caldas Aranha, o interesse por esse tipo de investimento por meio da concessão de parques já é uma realidade. “Acho que é muito importante os empresários estarem atentos para essa nova avenida de negócios, que são as concessões de parques”, diz. Segundo ele, o turismo na região da Amazônia Legal pode alcançar até 3% do PIB.

Além do turismo, há outras iniciativas em andamento. Presidente do Instituto Amazônia+21, Marcelo Thomé, destaca o papel da instituição em buscar identificar caminhos efetivos para transformar o potencial econômico do bioma amazônico em produtos e serviços, em processos industriais que possam gerar prosperidade, emprego e renda. O instituto conecta projetos, empreendedores locais e soma inovação e tecnologia por meio de parcerias com instituições como o SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial).

Encarar o desmatamento é fundamental para competitividade do país

Para explorar todo o potencial de competitividade econômica da floresta, entretanto, o Brasil tem que enfrentar o desmatamento (principalmente o ilegal) e, consequentemente, o armazenamento de carbono. Nos últimos anos, o país reverteu a tendência de queda nos índices de desmatamento. Em 2021, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (INPE), houve alta de 21,97% na taxa de desmatamento em relação ao ano anterior.

Diretor-executivo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), André Guimarães, relembra que o país é o quinto maior emissor de carbono do mundo, atrás de Estados Unidos (EUA), Índia, China e Rússia.

“No entanto, esses países têm um perfil de emissão de combustível fóssil. A gente tem perfil de emissão baseado no uso da terra (74% das emissões brasileiras). Quase 50% é desmatamento e, desses, mais de 90%, no caso da Amazônia, são ilegais. Combater o desmatamento ilegal significa atacar 50% do problema do quinto maior país em emissão”, explica André Guimarães.

Sem reduzir desmatamento, Brasil não atinge metas do Acordo de Paris

Para o diretor-executivo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), além da questão ética e moral de respeito aos direitos das populações tradicionais que habitavam a Amazônia antes de os portugueses chegarem, há o impeditivo de que o país não chegará ao final do século dentro das metas do Acordo de Paris se as florestas não forem conservadas e recuperadas.

“A Amazônia é a grande caixa d’água do Brasil. Se a gente desmata, prejudica o clima do planeta, desrespeita os direitos dos povos tradicionais e dá um tiro no pé do ponto de vista de desenvolvimento futuro”, alertou.

O país, no entanto, precisa ser mais ambicioso e ter mais comprometimento com as metas climáticas, segundo a integrante do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), Mercedes Bustamante.

“Todas as metas do Brasil passam pela redução do desmatamento e, hoje, isso implica como prioridade a reconstrução da governança ambiental no Brasil. Para isso, é preciso reconstruir a confiança e restabelecer instituições efetivas que possam conduzir esse processo de redução do desmatamento. Sem isso, a gente não atinge a nossa meta para o Acordo de Paris”, frisou a Bustamante.

O Indústria Verde apresenta, durante todo o mês de setembro, especial com foco em quatro pilares eleitos pelo setor industrial como fundamentais para o país avançar rumo a uma economia de baixo carbono. A série começa discutindo a importância da conservação florestal. O conteúdo que será apresentado foi feito com base no evento Estratégia da Indústria para uma Economia de Baixo Carbono, promovido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), nos dias 16 e 17 de agosto, que reuniu especialistas de diferentes países do mundo.

Notícia.: https://industriaverde.com.br/noticias/o-poder-da-floresta-em-pe-a-conservacao-como-vetor-para-o-desenvolvimento/

 

Compartilhar